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Toda manhã

 

Todas as manhãs, antes do cocoricó, lá estava ele, saindo da cama tal e qual um robô programado para encarar a monotonia diária. O ritual matinal? Uma dança enfadonha que começava no banheiro, com o espelho embaçado mostrando o rosto de um homem exausto e tragicamente preso a uma tradição que ninguém se deu ao trabalho de explicar.

O som da água corrente, a única trilha sonora dessa comédia estranha e abarrotada de erros. Ele seguia os movimentos rotineiros com precisão cirúrgica, mas sem a emoção (como toda boa cirurgia deve ser, inclusive). Sacrifício diários para agradar a sociedade, que, curiosamente, cagava e andava para ele.

No trabalho (e fora dele, na maior parte do tempo), a regra não escrita era bastante clara: pareça um manequim de vitrine. E lá ia ele, todo santo dia, esculpindo a própria identidade como se fosse um pedaço de argila sem vontade própria. Uma perda de tempo e de si mesmo, mas quem está contando? Todo mundo e ninguém, ao mesmo tempo.

Então, como supostamente deve ser em todo bom enredo, veio a reviravolta. O mundo começou a mudar, mas ele, curiosamente (ok, não tanto), demorou um pouco para notar. As ruas, os escritórios, as padarias e os mercados - todos viraram palcos para pessoas que desafiavam a velha guarda (ou algo parecido com isso). Liberdade no ar e ele ainda preso na sua bolha.

Ele resistiu, porque mudar dá trabalho e, convenhamos, julgamentos alheios são assustadores. Mas, aos poucos, bem devagarinho, a ideia de chutar o balde começou a parecer atraente. "E se eu simplesmente parar com isso?", pensou ele, flertando com a ideia da rebeldia. (ai, que rebelde ele!)

E então, num belo dia, ele decidiu (o famoso "tacou o f*das!). Largou o ritual e encarou o espelho (que drama, né?), mas foi a determinação que olhou de volta, não ele (brega, mas foi assim que aconteceu). Nos dias seguintes, ele assistiu às mudanças, sentindo uma liberdade que crescia mais que planta em comercial de fertilizante, mais que boleto no início do mês!

Semanas viraram meses e ele se redescobriu. Andava mais leve, como se tivesse tirado um colete de chumbo. Sorria mais, ria mais fácil e até parecia mais humano nas interações sociais. (parece exagero, mas nem é)

Numa manhã qualquer, enquanto se olhava no espelho, caiu a ficha (ok, isso entrega a idade). A liberdade que ele sentia era mais que um símbolo de mudança cultural: era um grito de independência, um lembrete de que a felicidade muitas vezes está em dar de ombros para o esperado.

Naquela manhã, ele finalmente se sentiu ele mesmo, livre das pesadas e grossas correntes de uma tradição que já tinha ido pro beleléu. Tudo isso porque, pasme, ele finalmente decidiu: não faria mais a barba!

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