Da inércia veio o golpe...
Passaria desapercebida sua chegada, não fosse a adoção da estupidez, da crueldade, do silenciar da desesperança.
A dor tornou-se moeda corrente, o medo fez morada nas esquinas, o som dos motores não causava euforia, mas apenas pânico.
Com requintes azuis, vermelhos e brancos, a bandeira outrora azul, branca, verde, amarela fez-se rubra, temperada com sangue de ratos e pólvora.
Uma terra, outrora construída com o sangue de mãos pretas, que, contudo, hasteava bandeira com as cores do brasão de família luso-austríaca, herdeiros, exploradores, foi inundada pelo ridículo e patético pânico de um projeto de sociedade justa, dos comuns.
O verde, herança de Bragança na flâmula, agora era a cor daqueles que distribuíam tiros, pontapés e torturava o próprio povo.
O amarelo, herança de Habsburgo, agora era apenas a cor da luz nos postes, iluminando corpos inertes, outrora cheios de jovem vigor e vasta esperança.
Ao branco e azul restaram os papéis e tintas das esferográficas, milhares de registros falsos, alegações de crimes jamais cometidos por aqueles que eram eliminados, fustigados e exilados.
À farda nunca foi cobrada a dívida por seu crime à nação, ao povo que devia servir, não explorar, furtando-lhe recursos e justiça.
Aos ianques nunca foi pesada a mão por sua maquiavélica atuação em solo sul-americano.
O passado, que àqueles de tez preta já tanto devia, pesou sua mão, novamente.
Nos livros, como predominantemente ocorre nestes casos, a história é distorcida e, quando muito, contada pela metade. O revisionismo chamou ao golpe de movimento.
Passaram-se quase seis décadas e nesta terra ainda habitam paquidermes obsoletos que louvam os dias manchados da história, saudosos da segunda maior tragédia que a terra brasilis já experimentou, desde a invasão européia, mais de cinco séculos atrás.