Há pássaros de diversos portes, proporções, cantos e cores. Há pássaros mais dóceis à convivência humana, outros mais restritos. Claro, não é culpa deles, é instintivo e varia de espécie para espécie.
Há humanos de diversos portes, proporções, tons e cores. Há humanos mais dóceis à convivência social, outros mais restritos. Claro, não é culpa deles, é instintivo e varia de contexto para contexto.
As relações entre humanos não se dão na fluidez que a natureza propõe às outras espécies do planeta, ao menos quando estas não estão em ambientes dominados (e provavelmente destruídos) pelo homo sapiens. No jogo de analogias e amálgamas de ideias, proponho uma breve resenha sobre relações saudáveis.
Quando pensamos em relacionamentos saudáveis, em qualquer espectro de relacionamento, quais características comumente encontramos nas mais perenes e positivas? Eu tenho minha lista e nela não constam jaulas, algemas, prisões, pressões, demandas draconianas, ameaças, mordaças, enfim, poderia listar objetos e verbos ad infinitum.
Você já viu como se comporta um gato selvagem quando é enjaulado? Ou outro animal qualquer, que sempre viveu bem e livre, de repente, colocado em uma jaula ou sob o julgo da coleira?
Ao estudar sobre a questão das relações humanas e como os vínculos se estabelecem, me pergunto: em que momento nossa cultura achou interessante que relações devam se basear em obrigações, cobranças, atendimento de demanda e nesta distorção sobre responsabilidade afetiva?
Sinceramente, é responsabilidade afetiva quando o outro é obrigado a corresponder suas expectativas? É responsabilidade afetiva quando você precisa estabelecer o que o outro pode ou não fazer? Onde está a responsabilidade afetiva quando as características do outro não são respeitadas e você demanda que ele corresponda da forma que você quer, não da forma que ele sabe e pode fazer?
As pessoas criaram um formato de relação utópica e tóxica, em que as asas não podem bater e o outro precisa ser mantido na gaiola, na jaula, sempre disponíveis e – por que não? – cantando a música que você quer.
Olhe ao seu redor, olhe para seu histórico de relações, sejam com familiares, amigos, paixões, colegas, etc. Quais destas relações foram pautadas em liberdade? Quais destas relações foram pautadas em respeitar que o outro seja o outro? Quantas relações você estabeleceu em que o outro podia ser sempre ele, do jeito dele, e “tudo bem”?
Giramos, giramos e caímos quase sempre no mais eficiente atalho pra falência de qualquer relacionamento: a expectativa, o controle e o egoísmo. Eis o triunvirato que sustenta a cultura onde se chafurda a grande maioria das relações estabelecidas.
Por fim, faço o convite. Estabeleça relações com a pessoa sendo ela quem ela é. Seja você o bastante para que a pessoa queira voltar, quando ela for visitar o mundo. Se ela não voltar, tudo bem, provavelmente é o melhor para ambos. Abra mão do controle das pessoas, respeite a liberdade, permita que respirem. Pessoas não são bens para serem posses.
A plenitude da vida de um bem-te-vi não é dentro de uma gaiola, por que seria assim nas relações de afeto entre pessoas?